O Linux tem se desenvolvido rapidamente nos últimos anos, migrando das operações na web realizadas no perímetro das companhias para cargas de trabalho muito mais próximas do centro dos negócios. Nesse processo, ele conquistou um grupo maior de adeptos, formado por colaboradores e usuários comerciais.
Ao mesmo tempo, a parte mais fácil do avanço do Linux pode ter terminado. O analista do IDC, Al Gillen, disse a aproximadamente 300 participantes na Linux Foundation Collaboration Summit, realizada esta semana em Austin, Texas, que o Linux conseguiu muitas de suas realizações às custas dos sistemas Unix herdados. Daqui por diante, seu ritmo de crescimento poderá diminuir, como resultado tanto da virtualização de servidores, que reúne mais aplicativos em um único servidor, como da concorrência, em condições de igualdade, com o Windows Server, da Microsoft. "Nunca menospreze a Microsoft", acrescentou Gillen.
A Sun Microsystems interrompeu a migração dos usuários do Solaris para o Linux quando criou seu código-aberto de sistema operacional, declarou Gillen. "A Solaris não é necessariamente uma ameaça, mas será uma concorrente", comentou Gillen, em sua palestra efetuada no evento.
Cada vez mais freqüentemente, o Linux está atuando como um servidor de banco de dados; um crescimento "que está sendo, em grande parte, direcionado pela Oracle", relatou Gillen. Ao mesmo tempo, o Linux está assumindo maiores cargas de trabalho de aplicativos corporativos, incluindo o planejamento de recursos corporativos, o gerenciamento de relações com os clientes e também aplicativos financeiros. "Em 2011, os aplicativos dos setores de logística e produção, sozinhos, representarão um mercado avaliado em US$1,2 bilhões, com base no Linux; o gerenciamento de capital humano formará um mercado estimado em US$2 bilhões", ele previu.
Gillen está acompanhando os passos do Linux desde o primeiro estudo que o IDC realizou sobre o mercado para o Linux, em 1999. Em 2011, o mercado para os sistemas Linux – hardware e sistemas operacionais de servidores – irão totalizar US$ 50 bilhões. O Windows ainda estará à frente do Linux por uma ampla margem. Um meio de comparar os dois, segundo ele, é imaginar que os aplicativos corporativos do Linux e do Unix, juntos, totalizarão US$ 96 bilhões em 2011 (com os aplicativos Linux representando um terço do total); e os aplicativos do Windows Server, US$ 110 bilhões.
Mas Gillen mencionou outros números que mostram que para cada cópia autorizada do Linux sendo executada em ambiente corporativo existe outra cópia que está sendo executada, mas que não foi autorizada nem paga. O ecossistema do Linux é duas vezes maior do que aquilo que é relatado pelos dados sobre rendimentos, do IDC, porque são muitos os usuários que acreditam ter as habilidades internas para garantir o suporte técnico de seu sistema Linux ou que preferem depender do suporte técnico oferecido pelos membros da comunidade do Linux.
A análise de Gillen foi parte da segunda reunião anual sobre a situação do Linux, patrocinada pela fundação. Trata-se de um grupo sem fins lucrativos, sediado em San Francisco, cujos patrocinadores corporativos incluem Oracle, HP, IBM, e sua mais recente conquista, a Adobe Systems.
Parte do propósito da reunião de cúpula é permitir aos usuários corporativos observar e interagir com os desenvolvedores do kernel do Linux, que, algumas vezes, são “personagens” distantes, semelhantes a deuses, que têm poder absoluto sobre o núcleo do sistema operacional. Uma pessoa que teve esse privilégio foi Ed Reaves, gerente de plataforma de tecnologia, da Nortel, de Research Triangle Park, na Carolina do Norte.
Os usuários finais e os administradores de servidores do Linux estão felizes com o tempo de operação de 99,999%, observou Reaves, mas a Nortel e outras companhias de telecomunicações gostariam de aumentar a confiabilidade do Linux para 99,9999%, ou um período de interrupção de cerca de 30 segundos por ano. Os desenvolvedores do Linux, na Nortel, produziram um bloco de código capaz de reiniciar o Linux em 20 segundos, caso um sistema operacional pare de funcionar, que é chamado de "o reinício, no lugar da correção de interrupção", ele comentou.
Mas parece que isso não está sendo direcionado para o kernel, para o infortúnio dos executivos da Nortel, preocupados em evitar tais paralisações. "Como se pode ter uma correção de kernel lançada na linha principal?", perguntou Reaves, referindo-se ao processo de desenvolvimento que direciona as adições para os revisores anteriores do kernel e para a árvore de código hierárquica, mantida por Linus Torvalds.
O desenvolvimento do kernel é um processo muito segmentado, com os principais desenvolvedores sendo responsáveis por subsistemas Linux específicos. "O recurso limitante não é o desenvolvimento do código, mas a revisão do código", respondeu Jonathan Corbet, um desenvolvedor de kernel e autor do artigo "Linux Forecast", da Linux Foundation, publicado em seu Web site.
Quanto menor for a correção, maior será a probabilidade de encontrar uma revisão rápida, ele acrescentou. A
correção da Nortel, contudo, foi um bloco mensurável de código exigindo o auxílio de alguém com conhecimento de parte do kernel.
James Bottomley, o desenvolvedor de kernel responsável pelo subsistema SCSI, notou: "É necessário descobrir o tipo certo de revisão". O revisor precisa ter experiência na área do código que foi submetido, ter tempo para fazer a revisão e o respeito e a confiança dos mantenedores do kernel em sua área do subsistema. O processo de revisão é menos reconhecido do que o de escrever o código, o que levou os desenvolvedores do kernel a incluir uma identificação de "revisado por" nas correções, a fim de que se reconheça o papel do revisor.
"O padrão é bem alto", concordou Arjen van der Ven, um desenvolvedor de kernel contratado pela Intel, que trabalha em gerenciamento de energia do Linux. Outro membro da platéia, no evento, citou o risco de encontrar 20 "mensagens de alerta informando sobre a inadequação de seu código", quando você chega para trabalhar, depois de encaminhar uma correção. Ted Ts'o, um desenvolvedor que é considerado mais bem-humorado do que o normal e que foi contratado em dezembro pela fundação para trabalhar em tempo integral no kernel, concordou que receber e-mails ameaçadores é um risco, quando se encaminha código. Os desenvolvedores de kernel estão tentando não se sentem tão pressionados no sentido de responderem bruscamente ao código com que contribuíram, ele afirmou.
"Eu preferia que você recebesse mensagens de advertência enviadas por mim do que por Arjen", acrescentou Ts'o, causando risos na platéia.
Outro problema entre os desenvolvedores de kernel e os usuários do Linux é a resolução dos bugs. Os desenvolvedores de kernel querem que a comunidade mais ampla relate os bugs e encaminhe as soluções recomendadas. "Quantos de vocês sabem como devem relatar um bug?", Bottomley perguntou aos membros da platéia, que incluía muitos usuários do Linux. Somente algumas pessoas levantaram suas mãos.
Acesse http://bugzilla.kernel.org, ele orientou, e utilize o formulário desse Web site.
Relatar bugs para a Linux Foundation Bug é uma prioridade para os desenvolvedores de kernel. Respondendo à solicitação feita pelo principal integrador de kernel, Linus Torvalds, há três anos, eles começaram a se preocupar menos com identificar cada bug e mais em incorporar mudanças em cada iteração do kernel. Deixe a comunidade maior ajudar a detectar e corrigir os bugs, era principal idéia, naquela época, conforme disseram vários desenvolvedores.
Essa prática resultou em uma resposta, no ano passado, por parte de Dave Jones, na Red Hat, que disse temer que o número de bugs no kernel 2.6.21 levasse a problemas, à medida que se tornasse parte da comunidade Linux, denominada Fedora, da Red Hat.
Jones, Bottomley e Corbet disseram que os desenvolvedores de kernel estão tentando identificar mais bugs no processo de criação do código, antes dos lançamentos de kernel. Os lançamentos de kernel diminuíram de um ritmo frenético de a cada dois meses para cada 2,7 meses, de acordo com um recente relatório da Linux Foundation, elaborado pelo desenvolvedor de kernel, Greg Kroah-Hartman, e pela diretora de marketing da fundação, Amanda McPherson.
"Muitas pessoas não relatam bugs quando os encontram. Isso é um problema", ressaltou Arjen.
Bottomley replicou: "Encontrar bugs é uma atividade em parceria. Se você começar a fazer testes e encontrar bugs, deverá relatá-los para que possamos resolvê-los".
Ts'o acrescentou: "Mesmo se houver uma chance em mil, eles se manifestarão, e isso é inaceitável para uma companhia". Os lançamentos de kernel do Linux estão sujeitos a testes pela Red Hat e Novell, antes de prosseguirem para a edição corporativa, sem nenhuma ou com poucas mudanças no kernel, depois que a edição corporativa é lançada.
Outra área que causará preocupação é o desenvolvimento de drivers para periféricos, que os usuários querem para trabalhar com o Linux. A Kroah-Hartman anunciou, há um ano, que tinha 200 voluntários que queriam desenvolver drivers para fabricantes, que colaboravam com a iniciativa fornecendo especificações e outros tipos de suporte técnico. Este ano, existem 300 voluntários, mas "não há muito que eles possam fazer".
Às vezes, os fabricantes publicam especificações para seus dispositivos, nos quais, um drive pode ser baseado, mas eles não dirão aos programadores de kernel do Linux em que aspecto eles modificaram suas próprias especificações. Sem a colaboração dos fabricantes, não é possível criar drivers confiáveis, afirmou Chris Wright, um mantenedor de kernel que trabalha com segurança. Os fabricantes que não estão acostumados à natureza aberta do desenvolvimento do kernel do Linux, algumas vezes, ficam relutantes em divulgar o que eles consideram segredos comerciais.
O primeiro dia do evento terminou com um intenso debate entre fabricantes de dispositivos móveis que utilizam Linux. Sean Moss-Pultz, da OpenMoko; Derek Speed, do projeto Moblin, da Intel; Andrew Shikiar, do projeto LiMo, um consórcio formado pelas companhias Vodafone, Motorola, NTT DoCoMo, e outros fabricantes de dispositivos móveis visando a desenvolver uma plataforma aberta, móvel e comum; David Schlesinger, da Access, e Eric Chu, do Google, debateram sobre quem estava seguindo os padrões e como os dispositivos móveis deveriam ser desenvolvidos.
"A controvérsia foi surpreendente. Adoro observar discussões acaloradas", avaliou o usuário do Linux, Stefano De Panfilis, diretor de laboratório na Engineering Informática, em Roma. Não se preocupe, disse o veterano observador do Linux, Michael Schultheiss, especialista em sistemas Unix, na Indiana University, em Indianapolis, e presidente do grupo local de usuários do Linux. "O mercado vai estabelecer todos os padrões".
Nenhum comentário:
Postar um comentário